
jul 25, 2014
Sem conseguir comprar um bilhete de trem direto para Vladivostok , por problemas de comunicação e de logística, voltamos à Moscou, onde passamos mais um dia.
Depois de muita pesquisa, achamos o site de venda de passagens de trem www.pass.rzd.ru, onde é possível fazer a busca em inglês, porém não conseguimos comprar com nosso cartão. A solução foi anotar tudo em russo, inclusive fazer um mapinha do trem indicando a cabine e os lugares que queríamos e mostrar para uma funcionária que auxiliava na compra nas máquinas. Nos guichês somente os russos conseguem, é uma verdadeira maratona enfrentar aquela “furação” de fila, só eles entendem. Por incrível que pareça, a funcionária nos atendeu sorrindo e conseguiu debitar do nosso cartão! Abraçamos e demos uns bolinhos para ela, era muita felicidade!
As passagens eram para Irkutsk. A ideia era comprar lá em Irkutsk as passagens para Ulan Ude. Em Ulan Ude tentaríamos um visto para Mongólia.
4 dias no trem, de terceira classe, sem banho…
Nossos vizinhos.
Coitado do casal aturando o bêbado
Cada parada com o horário
Tem água quente para o preparo de refeições e bebidas
O preferido do cardápio, pelo menos na 3ª classe: o fedorento omul
A paisagem monótona pela janela dá um sono…
Estação de Irkutsk
Passeio de barco pelo Rio Angara
A cidade é bonita, com jardins bem cuidados, praças limpas, universidades e lindas igrejas.
“No início do século XIX, muitos artistas russos, oficiais e nobres foram enviados para o exílio na Sibéria por sua parte na revolta Decembrista contra o czar Nicolau I. Irkutsk tornou-se o grande centro da vida intelectual e social para esses exilados, e grande parte do patrimônio cultural da cidade vem deles, assim como muitas de suas casas de madeira, enfeitadas com ornamentos talhados à mão, que hoje sobrevivem em forte contraste com o padrão de blocos de apartamentos soviéticos que os cercam. As ruas largas, arquitetura e ornamentação continental levaram Irkutsk a ser apelidada a “Paris da Sibéria”, embora os viajantes de hoje tendam a não se importar muito.
Durante a guerra civil que eclodiu depois da Revolução Bolchevique, Irkutsk tornou-se o local de muitos confrontos furiosos, sangrentos entre os “brancos” (czaristas) e os “vermelhos” (bolcheviques), e uma série de marcos históricos daquela época permanece na cidade. Em 1920, Kolchak, o outrora temido comandante do maior contingente de forças anti bolcheviques, foi aqui executado, o que efetivamente destruiu a resistência anti bolchevique.
Hoje, Irkutsk é uma das maiores cidades da Sibéria, com uma população crescente de mais de 590.000 pessoas.”
(https://pt.wikivoyage.org/wiki/Irkutsk)
Dormimos um noite na cidade para descansar e tomar banho, continuando a viagem de trem até Ulan Ude no dia seguinte. Compramos passagem para viajar durante o dia e assim poder apreciar a paisagem do Lago Baikal.
A viagem durou quase 9 horas e foi bem agradável, no nosso vagão haviam somente famílias, nenhum bêbado e não estava lotado.
O Lago Baikal, chamado também de “Pérola da Sibéria” é o lago mais profundo do mundo (1620m). Acredita-se que possui um quinto de toda a água doce da terra. Organismos vegetais e espécies animais são 60% endêmicos.
Foi o trecho mais bonito da viagem de trem desde São Petersburgo.
Estátua da cabeça de Lênin na praça central – a maior do mundo.
Ulan-Ude foi fundada em 1666 pelos russos cossacos. Devido à sua posição geográfica, a cidade cresceu rapidamente e tornou-se um grande centro comercial, conectando a Rússia com a China e a Mongólia. Pertencia originalmente ao povo Buriata, de origem, principalmente mongol. A cidade é uma mistura da herança soviética, budista e ortodoxa, e um lugar onde os costumes dos antigos nômades ainda sobrevivem. A anexação pelo Império Russo dessa terra deu origem a um misto de culturas como nunca visto em nenhuma outra parte da Rússia. Todos adicionaram algo de sua própria cultura ao caldeirão de Ulan-Ude.
As pessoas têm olhos puxados, cabelos escuros e baixa estatura, nem parece que estamos na Rússia.
Fomos até a embaixada da Mongólia pegar o visto para continuar seguindo de trem, preenchemos os papéis e levamos cópias dos documentos, chegando lá informaram que havia um acordo com o Brasil de que brasileiros poderiam permanecer no país por 30 dias, sem necessidade de visto.
Com as passagens para Ulan Bator nas mãos (e de segunda classe!) seguiríamos felizes no dia seguinte para a Mongólia, um país que não estava em nossos planos, mas que nos proporcionaria belas surpresas…
Nesses dias dentro do trem conhecemos algumas pessoas muito legais, um casal da Bielorrússia, uma família do Azerbaidjão, alguns russos que ofereciam comida, café e vodca o tempo todo… mas também nos estressamos um bocado com uns bêbados mal encarados que cismaram que éramos espiões paquistaneses, eles nos encaravam e falavam coisas em russo para nós… foi bem tenso. Além de todo o tédio e a falta de banho. O tempo no trem é marcado praticamente pelo horário das refeições, e as pessoas parece que fazem questão de levar comidas difíceis de preparar, acho que para passar o tempo… Eles levam muitas frutas e legumes que demoram para descascar e o número 1 do cardápio, pelo menos na 3ª classe: o fedorento omul, nada prático de comer.